Município situado entre duas capitais, Florianópolis e Porto Alegre, as margens da rodovia BR-101, entre o oceano Atlântico e os Aparados da Serra Geral, banhado pelo caudaloso rio Araranguá e suas lagoas e embelezado pelo santuário ecológico do Morro dos Conventos. Possui as quatro estações do ano bem definidas, com uma população estimada em 60 mil habitantes. Foi o município epicentro do furacão Catarina em 2004.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Araranguá e o seu desenvolvimento

ARARANGUÁ E O SEU DESENVOLVIMENTO!
(NÃO É APENAS O QUE PENSO A RESPEITO, MAS O QUE UMA GRANDE MAIORIA CONCORDA...)

Tadêu Santos
(Escrito nas últimas horas do ano de 2007).



Passagem de ano sempre é desafiador, faz com que reflitamos sobre a vida e revejamos o que fizemos e não fizemos no ano que passou e o que poderemos fazer no ano que está por vir. Daí a razão do texto, em mais uma tentativa de promover reflexão não só nas mentes, mas também nos corações dos araranguaenses, já que temos ao longo dos últimos anos tentado provocar a discussão sobre o cenário socioeconômico e ambiental de Araranguá. O desafio é para todos os araranguaenses que gostam e ‘’realmente’’ preocupam-se com o futuro do nosso município. Se considerarem a proposta relevante e fundamentada então repassem, mas se é descabida e despropositada então que a critiquem. Em uma rara oportunidade com dirigentes de um setor produtivo do município percebemos certo descaso para com o ambientalismo, como se fosse o culpado pela estagnação econômica do município, quando que a culpa está na ausência de um projeto ou de um plano de desenvolvimento. Como segmento organizado da sociedade civil nos compete a construção de idéias e planos fundamentados em princípios éticos e socioambientais, onde sempre haja a interação equilibrada entre o homem e a natureza.

Por que Araranguá não se desenvolve como Jaraguá do Sul no norte do Estado? Alguns afirmam que é a proximidade com Joinville e Blumenau que determinou o invejável crescimento deste município que em 1985 era menor que Araranguá. Outros apostam que o fator predominante é a combinação da cultura da população com a determinação dos empresários. No entanto outros entendem ser um conjunto de fatores que promove o desenvolvimento de um município e/ou região. Fatores estes que estão acima dos interesses pessoais, privados ou políticos partidários.

Araranguá precisa de um projeto que aponte suas necessidades e potenciais vocações, que estas regras básicas sejam debatidas com a população e finalizadas num plano de ação à médio e longo prazo, porque os imediatistas comprovadamente funcionam apenas eleitoralmente, já que dificilmente obtêm resultados satisfatórios. Nem sempre o melhor desenvolvimento é aquele que aparenta ser, com as vantagens apenas para uma pequena parcela da população criando uma profunda desigualdade na teia social. O bom desenvolvimento é aquele tipo ‘’esterco’’ que quanto mais espalhado mais efeito faz. Bem como disse o engenheiro e escritor Bautista Vidal – o criador do Pró-Álcool, ‘‘O desenvolvimento econômico deve privilegiar os interesses e o bem-estar da população e não só os ganhos capitalistas dos empreendedores” ou como a Ministra Marina da Silva quando definiu "Que o meio ambiente não seja visto como mais uma camada de dificuldade para o desenvolvimento, mas como a única forma do desenvolvimento ser de fato sustentável para todos os segmentos da sociedade.

O bom senso estipula um percentual para a quantidade de comércio e indústria, quando percebemos que Araranguá não consegue manter este equilíbrio, pois o percentual de comercio é bem superior ao da indústria. Este quadro com predominância de salas comerciais inflaciona o setor gerando uma troca de moedas fracas e exagero de uma mesma atividade como farmácias e locadoras de DVD, uma ao lado da outra numa total falta de ética comercial. A indústria já tem um perfil diferenciado, pois o produto geralmente é ‘’exportado’’ não havendo esta infrutífera competição comercial. A indústria não precisa necessariamente ser exportadora, pode ser também acolhedora como o turismo. O importante é a dinâmica de divisas que entram no município, como em Gramado/RS, por exemplo, onde entra mais dinheiro no município do que sai. OBS. Os estabelecimentos comerciais que mais arrecadam em Araranguá não investem no município, muito pelo contrário...

A região tem potencialidades naturais espetaculares e exclusivas no Estado, mas que ainda não recebeu projetos adequados para a sua preservação e exploração eco-turística. Todo o empenho de transformar as áreas de preservação permanente - APP em Unidades de Conservação – UC da AMESC, como forma de habilitá-las a receber recursos, estão emperradas por algum motivo político ou estão achando que ainda podem detonar com as APPs, já que como UC não será mais possível. Ora, a única possibilidade legal é através dos Planos de Manejo obrigatórios para a implantação das Unidades de Conservação via Ministério Público. A criação de uma infra-estrutura adequada para a preservação ambiental, o conforto dos visitantes para o Morro dos Conventos e a utilização ordenada da Lagoa do Sombrio são dois exemplos de uso sustentável das Unidades de Conservação. O município precisa estar integrado com a região em todos os aspectos, afinal não é só com o Arroio do Silva que temos ramificações territoriais, mas também com Praia Grande e Morro Grande, por exemplo, pois vivemos numa pequena aldeia regional, os interesses dos turvenses são os mesmos dos sombrienses e assim por diante...

Para nossa cidade de Araranguá tornar-se mais saudável é indiscutivelmente necessária a implantação do sistema de esgotamento sanitário. Já existe um avanço da atual administração que investiu num anteprojeto elaborado por técnicos da UFSC, mas falta o projeto executivo da obra para possibilitar a obtenção de recursos. Uma cidade que cuida adequadamente dos seus resíduos sanitários atrai investidores, pois é sinal de qualidade de vida para a população.

Poderíamos citar aqui vários exemplos de ações de iniciativa coletiva que deram certo em Araranguá, como o Desvio da Duplicação da BR 101 – uma exemplar conquista da sociedade civil organizada, a mobilização para implantação do CGBHRA e recentemente a aprovação da Fundação Ambiental do Município de Araranguá – FAMA. São movimentos voluntários que deixarão resultados benéficos para toda população, com a parceria de todos os segmentos sociais, políticos e governamentais. Por isso acreditamos que um outro mundo é possível!

A fixação da foz do rio Araranguá, apesar do imenso impacto ambiental, ainda é um dos empreendimentos mais necessários para fomentar o desenvolvimento da pesca e do turismo, porém estamos deixando passar uma grande oportunidade de angariar recursos compensatórios com a Duplicação da BR-101, que apresenta justificativas únicas com a interferência das cheias do rio Araranguá na rodovia federal, bem como o imenso dano ambiental que a atividade carbonífera causa aos recursos hídricos da bacia do rio Araranguá. Estamos sozinhos neste movimento pró-fixação porque parece que os políticos não gostam de iniciar obras que possam ser estendidas ou venham a ser concluídas por outros governantes de outro partido.

Áreas de lazer de uso público e bem planejadas complementam a obrigação do setor público depois da saúde, educação, cultura, esportes, segurança e infra-estrutura com vias públicas. As áreas que poderiam ser aproveitadas ou revitalizadas esperam por projetos, como o Morro dos Conventos, as margens do rio Araranguá, o jardim da Praça Alcebíades Seara, o lago Belinzoni e o banhado da XV de Novembro...

Não que a construção de obra pública vai influenciar no desenvolvimento, mas afeta a qualidade de vida, como por exemplo, a falta de planejamento colocou o Hospital Regional num local inadequado, diariamente pessoas se perdem a procura do mesmo, inclusive araranguaenses (minutos e até segundos salvam vidas!!!). Na principal entrada da cidade uma rótula cria congestionamento pra quem está saindo da BR-101 e a Praça do Relógio do Sol – um dos principais cartões de visita não é valorizado. Indústrias de porte tentaram instalar-se no município na administração anterior sem sucesso. Em breve Sombrio e Turvo poderão ultrapassar Araranguá que é o município pólo da AMESC. A abertura da rodovia Jorge Lacerda pelo prefeito Antonio ‘’Dau’’ Ghizzo causou polêmica porque o CDL e mais outras entidades contestaram argumentando que o comércio do centro seria prejudicado porque os visitantes e veranistas não iriam mais passar por dentro do centro, ocorrendo a mesma reação quando iniciamos o movimento pelo Desvio da Duplicação por fora do perímetro urbano de Araranguá.

Enquanto isso o ‘’momento mágico da duplicação’’ está passando e os municípios mais organizados e preparados atrairão os melhores investimentos, portanto o município de Araranguá comportaria um ‘’distrito industrial’’ às margens da duplicação, seria o melhor investimento para o setor industrial com a expectativa de instalação de mais dez empresas tipo Pagé, por exemplo, para resolver o desemprego no município além de apresentar um reduzidíssimo impacto ambiental, ou seja, uma indústria sustentável! Observando que para desenvolver o turismo (eco) em Araranguá basta olhar pro Morro dos Conventos, pra foz do rio Araranguá, suas lagoas etc e explorar ordenadamente todas estas potencialidades, enquanto que para a agricultura o caminho é a agro-ecologia / agricultura orgânica.

Há quem afirme que um poderoso ‘’quarto poder’’ com grande capacidade de articulação rejeita idéias e projetos que proporcionem desenvolvimento para cidade, ‘’pois do jeito que está’’ estão ganhando dinheiro, se o município crescer vem a indesejável concorrência. A implantação do Plano Diretor pode combater este conservadorismo, pois é no momento o projeto mais importante do município, ou seja, disciplina o uso do solo e a expansão urbana de forma ordenada, além de envolver diretamente a sociedade com os compromissos do futuro. Por outro lado, indiscutivelmente a implantação da UFSC e do CEFET serão as maiores obras da história de Araranguá, pois a educação é fundamental na construção de uma sociedade moderna, com solidez estrutural, organizacional e intelectual.

Não basta apenas o setor produtivo buscar o tão almejado desenvolvimento. É preciso o engajamento da classe política e da sociedade civil através de seus segmentos organizados. Não é necessária a assinatura de nenhum documento ou protocolo, mas a tomada de consciência de forma abrangente, numa espécie de pacto em busca dos interesses coletivos. Têm-se disposição e paixão pelos times de futebol, por que não pelo desenvolvimento do município participando das associações comunitárias, dos movimentos sociais e das ONGs, adquirindo produtos locais, valorizando o comércio local e elegendo políticos realmente comprometidos com a região, enfim exercendo cidadania de fato!

Enfim, a querida e encantadora Araranguá que adotamos para viver, situada entre duas capitais, banhada pelo Oceano Atlântico, rio Araranguá, belas lagoas e protegida pelos Aparados da Serra Geral, tem tudo para ser ainda mais saudável, desde que passe a adotar uma espécie de pacto em busca de um ‘’desenvolvimento ordenado’’, que atenda nossas atuais necessidades sem prejudicar o direito das futuras gerações.

Comentando com um amigo o teor deste documento, o mesmo sugeriu que abordasse propostas viáveis para o desenvolvimento de Araranguá, que não ficasse apenas na crítica, quando respondi que apenas estou expondo idéias de como buscá-las democraticamente, e reitero que todos os outros cidadãos araranguaenses têm a obrigação de motivar, de uma forma ou de outra, a dinâmica geopolítica do município, exercendo cidadania. Estou fazendo a minha parte como cidadão, diga-se estritamente de forma voluntária (os registros históricos irão comprovar, já que espero que o texto seja publicado na integra!).

OBS. NO ANEXO, CARTA SOBRE ‘’UNIÃO FAZ A FORÇA’’ ESCRITA EM 2005.
www.sociosdanatureza.blogspot.com / www.aramericano.blogspot.com

Nenhum comentário:

Quem sou eu

Minha foto
Nascido em 22/07/1951, em Praia Grande/SC, na beira do rio Mampituba, próximo às encostas dos Aparados da Serra, portanto embaixo do Itaimbezinho, o maior cânion da América do Sul, contudo, orgulha-se de haver recebido em 2004, o Título de Cidadão Araranguaense. Residiu em Fpolis onde exerceu por dez anos a função de projetista de edificações e realizou o documentário em Super 8 sobre as eleições pra governador em 1982, onde consta em livro sobre a história do Cinema de SC. Casado, pai de dois filhos (um formado em Cinema e outro em História) reside em Araranguá. Instalou uma das primeiras locadoras de vídeo do estado. Foi um incansável Vídeomaker e Fotógrafo. Fã de Cinema sempre. Ativista ambiental da ONG Sócios da Natureza (Onde assumiu a primeira presidência do Comitê da bacia hidrográfica do rio Araranguá – na época um fato inédito no ambientalismo). É um dos autores do livro MEMÓRIA E CULTURA DO CARVÃO EM SANTA CATARINA: Impactos sociais e ambientais. www.vamerlattis.blogspot.com